A Petrobras divulgou na última quinta-feira (23) o seu primeiro plano estratégico desde a eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e da chegada de Jean Paul Prates para o comando da empresa.
Além da previsão de uma alta de 31% de investimentos e de um aumento na produção total de petróleo (veja mais abaixo), a companhia também prevê uma redução nos dividendos distribuídos a acionistas.
No documento, a projeção é que esses pagamentos totalizem, nos próximos anos, algo entre US$ 40 bilhões e US$ 45 bilhões (de R$ 195,7 bilhões a R$ 220,2 bilhões). O valor ainda pode incluir recompra de ações, com potencial para mais até US$ 10 bilhões (R$ 48,9 bilhões) de dividendos extraordinários.
O número, no entanto, ainda representa uma queda de 30% a 35% na distribuição de dividendos em relação ao observado no plano anterior (que ia de 2023 a 2027), quando a previsão era que esses pagamentos somassem algo entre US$ 65 bilhões e US$ 70 bilhões (de R$ 318 bilhões a R$ 342,5 bilhões).
A redução, segundo analistas, reflete a nova política de dividendos da Petrobras, anunciada em julho deste ano. De acordo com as novas regras, a distribuição passou de 60% para 45% do fluxo de caixa livre da empresa.
Depois dessa mudança, a estatal saiu do ranking global de empresas que mais distribuem lucros aos seus acionistas. A lista, divulgada em agosto, foi elaborada pela consultoria Janus Henderson.
Questionado em coletiva de imprensa na última sexta-feira (24) sobre a queda na projeção de pagamentos, o diretor-executivo financeiro e de relacionamento com investidores da Petrobras, Sergio Caetano Leite, a companhia continua sendo uma "ótima pagadora de dividendos", mesmo com a menor distribuição de lucros.
"O que havia [antes] era um pagamento desajustado da realidade de uma companhia que quer crescer e ser resiliente para o futuro. Nós simplesmente equalizamos com as ‘majors’ [maiores empresas do setor]”, afirmou ele.
Veja abaixo outros pontos citados pelos executivos no novo plano estratégico que podem mudar os caminhos da companhia até 2028.
No documento, que tem projeções de investimento da Petrobras de 2024 até 2028, a estatal também indicou outros pontos importantes que apontam qual o rumo que a companhia deve tomar nos próximos anos, tais como:
Segundo analistas, o novo plano estratégico também mantém características importantes de planos anteriores, como a continuidade do foco da empresa na exploração e produção no pré-sal e na racionalização dos ativos de refinaria.
De acordo com o novo plano estratégico, a Petrobras pretende investir US$ 102 bilhões (aproximadamente R$ 500 bilhões) entre 2024 e 2028 – um aumento de 31% em comparação ao plano anterior, que previa US$ 78 bilhões (R$ 381,6 bilhões).
sses investimentos são conhecidos como Capex (dinheiro usado pela empresa para manter e ampliar os negócios).
Para analistas, o aumento de 31% no Capex está associado, principalmente, à introdução de novos projetos — incluindo potenciais aquisições — e à retomada de ativos que, antes, estavam em desinvestimento.
Além disso, a alta desses investimentos também se tornou necessária por conta da inflação de custos, que impactou toda a cadeia de suprimentos — o que, em outras palavras, significa que a Petrobras deve precisar desembolsar mais dinheiro para manter suas operações.
“Há uma reestruturação significativa nas alocações [onde a empresa decide colocar o dinheiro]", disse o analista Frederico Nobre, da Warren, em relatório.
Um exemplo dessa reestruturação está, no segmento de Exploração e Produção (E&P), que deve receber 72% do total do Capex, uma redução de quase 10% se comparado com o plano anterior.
Por outro lado, o analista destaca que os segmentos de Refino, Transporte e Comercialização (RTC) e de Gás e Energias de Baixo Carbono registraram “aumentos significativos” no novo plano, tendo recebido, respectivamente 16% e 9% do Capex. No relatório anterior, as vertentes haviam recebido, juntas, 14% dos investimentos.
Na prática, isso significa que apesar de manter o segmento de exploração e produção de petróleo como o principal destino de seus recursos, a Petrobras tem ampliado seu investimento em alternativas renováveis.
O uso do Capex previsto no chamado “Portfólio de Avaliação”, no entanto, está sujeito a estudos de viabilidade financeira antes do início do contrato e da execução.
“[Apesar de ainda precisar de estudos sobre a viabilidade, o plano] dá aos investidores maior clareza sobre o que esperar da empresa em termos da implantação do Capex [...] e destaca o processo robusto da companhia para aprovação de projetos”, escreveram os analistas Monique Greco, Bruna Amorim e Eric de Mello em relatório do Itaú BBA.
Transição energética, com energias de baixo carbono
Nessa toada, outro destaque trazido pelo plano estratégico da estatal está na promessa de descarbonização (ou seja, redução da emissão de gases de efeito estufa) de parte de suas operações.
Entre os projetos ressaltados pelo presidente da companhia, em entrevista concedida a jornalistas na última sexta-feira (24), estavam os voltados para as energias eólicas e solar fotovoltaicas e o programa de BioRefino (voltado à produção de diesel renovável e biocombustíveis para aviação, por exemplo), além de novos negócios para a captura de carbono e para a produção de hidrogênio e metanol verde, por exemplo.
“A gestão da Petrobras, assim como o atual governo brasileiro, tem se manifestado especialmente sobre como direcionar a estatal para investir e se preparar para a transição energética”, disse o diretor do segmento de óleo, gás e petroquímicos da XP Investimentos, André Vidal, em relatório assinado junto à analista Helena Kelm.
O presidente da companhia, Jean Paul Prates, ainda afirmou em coletiva de imprensa na sexta-feira que a empresa deve continuar investindo em novas refinarias (veja mais abaixo), “sem abrir mão de uma hora para outra da produção de petróleo.”
Aumento da produção no curto prazo e exploração de novas fronteiras
O plano estratégico da Petrobras também traz a projeção de produção total da companhia de 2024 a 2028